domingo, 24 de agosto de 2014

Abrir os olhos... Processo de transformação.

Ela abriu os olhos naquela manhã de inverno, há 17 anos... Um teto claro, alto. Ela dormindo em um colchão e ao lado um rapaz lindo ao qual amava... Trabalhava como vendedora em uma loja de artigos esportivos. Seu sonho era casar com ele e lhe dar um menino de filho: os olhos evidentemente seriam castanhos, cabelos lisos, robusto, com covas no rosto e um sorriso lindo. Seria a alegria da família. 

Ela acordou naquela manhã de março há 14 anos e ao seu lado estava o seu namorado. Foi, banhou-se e descobriu, com água do chuveiro batendo em seus seios que estava grávida. Era março e ela estava estudando há poucas semanas no curso que escolherá na faculdade... Tudo mudou...

E mudou radicalmente...

Ela acordou naquela manhã de verão há 12 anos. Olhou pra cima e viu um lindo menino chamando-a de mamãe. Loiro, rechonchudo, mal humorado, genioso, amoroso, seu sol! Sentiu-se abençoada.

Ela acordou naquela manhã de primavera há 9 anos. Olhou para o teto, ele era de madeira, amarela, ao seu lado, seu lindo menino, parceiro... Olhou e estava com um gesso na perna: havia quebrado o pé e 
lesionado os ligamentos... Ele cuidou dela com apenas 5 anos... Servia-lhe água, trazia toalhas molhadas para resfriar o corpo. Uma alma irmã! 

Ela acordou naquela manhã cinzenta... Uma outra qualquer e ao seu lado o marido. Não era o queria pro resto da vida. Muitas vezes, nós piores momentos, quando ela mais precisava de acolhida e cuidado... Nunca o teve. 

Outras manhãs ela acordou com o mesmo pensamento.
Outros dias se passaram...

Vieram as madrugadas, onde podia sonhar. Descobriu uma janela por onde podia dar curtos vôos e exercitar suas asas... Ela falava de tudo, sentia tanta alegria que os dias lhe pareciam enfadonhos...

E ela voltou a dormir...
Acordar do lado dele. Tentou sair algumas vezes, mas pensava no menino, que mesmo crescido, merecia o melhor.

Seu sacrifício não seria em vão. 

Numa manhã de outono ela acordou, olhou o mesmo teto por anos... Era escuro, de madeira. Levantou-se, trabalhou, foi ao salão de beleza e lá descobriu-se muito solitária... A palavra é abandono! 
Partilhou isso chorando ao homem com quem dividiu 16 anos da vida e ele a ignorou, mais uma vez. 

Na manhã seguinte, acordou e viu um teto familiar, mas diferente dos últimos anos. Era quarto de sua mãe. Havia saído. 

Acordou numa manhã de outono, viu um teto branco, móveis que não faziam parte de sua vida. Ao seu lado alguém que aprenderá a confiar. Finalmente poderia se deixar levar pelos sentimentos? Não! 

Ela acorda, diariamente com o teto amarelo sobre sua cabeça. Um lugar que não gosta. Diz ser passageiro. Diz que não demorará! Diz a si mesma que não pertence a esse lugar.

Ela já escutou de tudo... Desde isso não é seu, é de favor... Até que não sofreu o suficiente. 

Ela só tem esse rapaz, seu filho.
E é tudo que tem. É seu mundo. É o sorriso que a faz viver. 

Toda manhã ela abre os olhos e não quer ver o teto, quer ver o rosto do filho. Por vezes acorda no meio da noite e afaga-lhe as madeixas e pensa: "preciso que ele corte o cabelo!". Outras vezes, deixa-o dormir e vai delicadamente e faz o sinal da cruz com água benta em sua testa e faz uma pequena prece de proteção a Deus.

Ela está cansada. As batalhas lhe tiraram quase tudo... Ferida, manca, desnutrida de sentimentos... Perdeu o que nunca teve: um amor que julgava existir por ela doar aos demais... Mas se consola dizendo que é resposta aos seus pedidos a Deus: "me mostre os que realmente eu posso confiar". E restaram raros... O primeiro e maior é seu filho, os demais são amizades.

E no final, quando essa etapa da vida se concluir... Ela estará mais forte, radiante. Pois o ouro deve passar por grande fornalha e calor para ser purificado.

A transformação dói. E ela está em momento de transmutação. 

Depois que entramos no casulo, só podemos sair vivos se nos transformarmos em borboletas...

E ela fará um lindo vôo... Meu desejo pra ela, essa guerreira a quem tenho tanto orgulho em ver.

sábado, 23 de agosto de 2014

Esperando algo de bom

Iniciei a terapia, agora com um homem. 
Antes tive uma terapeuta, depois um psiquiatra depois uma psiquiatra e agora retorno a terapia com psicólogo. Prefiro os psicólogos, é uma terapia de construção, de vínculos e não entram medicações. Nunca usei drogas e por isso, talvez, eu seja chata com medicações. Tenho em minha família várias pessoas que abdicam de uma terapia por ser cara e longa e se atiram no primeiro psiquiatra que lhes prescrevem remédios para dormir, depois acordar e depois trabalhar. 
Já fiz uso de medicações assim. E posso afirmar que, depois de 4 meses eu me sentia uma zumbi. Sim, eu comia, me banhava, trabalhava... Até transava. Mas de fato, eu não sentia dor, aflição, ansiedade, temor, amor... Eu não me indignava, meu sangue não fervia frente as injustiças... Eu apenas aceitava... Casa vez que chegava ao meu pico, de querer sair porta fora, vinha alguém e me convencia de que eu estava errada e eu me medicava. Me tornava novamente uma zumbi. Concordava, me banhava, comia, trabalhava...

Esse ano eu parei, bati o pé. Não vou usar nada...
E foi o ano em que me separei. O ano em que não concordei. E minha família não "curtiu". Ao meu lado, meu filho e dois gatos. Só. Somente estes! 
Os demais, gritam que estou louca, que não vou conseguir nada com isso. Meu ex, tripudia o que pode, unindo-se aos meus familiares e fomenta a ideia que não sou boa com meu filho. Inventou terapia familiar... Fui. E fui exposta ao ridículo. Continuei, deixo evidente que não posso dividir uma sala com uma pessoa que me faz mal. 
Vivi muito tempo e essa pessoa, se sentindo traída por eu não mais a querer, por ela mesma não ter ombridade de me conseguir um lugar pra viver, quer, ainda controlar meus passos. 
Minha família teima em querer que eu use medicações. Claro, assim, eu concordaria na frente do juiz em voltar pra ele. 

Disse que queria sentir cada dor. E eles se puseram a cooperar com todas que podiam! Enfim, continuo viva. Ainda não terminaram comigo. Resisto. Persisto. Insisto.

Continuo aqui, meu trabalho, meus amigos... Pois é... Foi gente que não é do meu sangue que me ajuda, dá uma palavra de ânimo, um conselho... E sigo.
Sei é confio na justiça divina. Creio que o que pedi, que foi abrir meus olhos, Ele me concedeu. Agora, lhe peço outras coisas. Pois o dia em que eu recuperar tudo que perdi (ou que me foi tirado), essas pessoas que hoje me querem ver por baixo, não poderão estar comigo. Não são confiáveis. Uma vez que, se por baixo lhe querem afundar, sempre terão essa postura. É triste não poder contar com os laços de sangue, mas pior é viver na escuridão. 
Então, um dia, em breve, poderei olhar para trás e dizer: eu passei no teste. 

Espero algo de bom.
Sei que está me esperando ali, onde o tempo faz a curva! 












sábado, 26 de julho de 2014

Realinhamento

Eu tinha toda uma rotina de cuidados com meu corpo, com meu sono e tranqüilidade.
Mas, mesmo assim, com as massagens, com a dieta Ayurveda, as terapias... Faltava algo. 
Faltava eu sair de um lugar que me oprimia.

Na primeira oportunidade, sem nem pensar o suficiente, sai.
Certo que vivi o inferno. 
Todo o tempo só, era momento de chorar e de se desesperar. Certo que no dia seguinte, estava eu, maquiada, com sorriso no rosto e faceira. Sim, no meu trabalho estou sempre feliz com meus alunos. 
A coisa toda ocorria quando não tinha ninguém, quando o filho, os cães, os gatos e qualquer pessoas não estavam por perto.

A solidão pode me cair bem. Mas o desamparo, este é pior.
Não ter um colo, não ter um ombro... Isso, certamente é o pior! 

E na lei dos afogados, quando você encontra algo em que se segurar, não pergunta nada, só se prende.
Fiz essa grande burrada. Do pouco que tinha, sobrou quase nada. 
Outras pessoas também me deixaram... É a única que restou, buscou me manipular com o poder que tem, neste momento, sobre mim.

Tudo nessa vida tem solução. Não desisto. 
E se for pra fazer, vou fazer.
Dizem que o mal que se prática, volta.
E que inocentes recebem injustiças...
Mas eu não as queria! 

Embora, possa, afirmar que de tudo isso só levo dois consolos em meu coração: minha fé e que não posso contar com as pessoas.
As relações de poder e manipulação, são mais interessantes. 

Se viemos a este mundo para nos aprimorarmos, estamos sendo reprovados a cada esquina. O intensivo da vida, será cada vez pior.

Odeio me sentir abandonada. Se estou só por opção, é algo diferente de ser largada, como alguém que não faz diferença alguma na vida dos outros.

E mesmo assim, dolorida de tantas batalhas que me parecem sempre vencidas pelos outros, digo... Cambaleando.
Sigo.
Não posso desistir.


sexta-feira, 25 de julho de 2014

(Re)Pensando

Depois de muito tempo, volto aqui para escrever.
Tive tantos momentos bons e outros nem tanto assim. 
Hoje me deparo parada e com frio no meio do caminho, caminho que escolhi e corri por quilômetros.
O primeiro sentimento foi de liberdade e depois abandono.
A cada bifurcação, temo o que está por vir...
Os medos mudaram, com isso, nem reconheço mais o que dói mais ou menos... Tudo me fere.

Se era ruim junto, saibam que separada, também o é.
O bom é que a parte da saída eu já fiz. 
Agora são os recomeços.

Preciso pensar em tudo.
Fazer tudo e me faltam forças...
Quero as coragens, as fúrias, as ganas de viver... Mas temo! 

Cada dia (re)penso sobre tantas coisas... Mas jamais volto atrás numa decisão, principalmente essa. Estou pagando pela preciosa liberdade e não há nada que possa me tirar esse foco! 
Dói, mas faz parte.
Sofro, mas o meu sonho me sustentará! 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Ama(do)(r)

Um dia eu falei que amei
um dia pensei que jamais deixaria de amar
um dia pensei que sofrera a maior dor do mundo...

Mas descobri que isso é pra amadores
amar é ter dores.

Decidi não mais amar nessa intensidade
nesse devaneio
nesse doce conto

Não!
Isso é para amadores.
Os profissionais Fingem!
E se dão bem.
Pois pra ser profissional, um dia teve de sofrer...
mas os degraus ensinam os bons alunos.

E depois, faça como eu: não tenha pena dos amadores.
Se sobreviverem, terão o peito oco como o meu, e nem ressentimentos terão da minha insensibilidade...

Pois só profissionais são insensíveis, pois sabem como é amar e
como se distanciar o suficiente para não causar dor a si mesmo... ainda sendo um grande galã...

Ame no limite, apaixone-se brandamente e deixe os melhores momentos para o orgasmo!

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Cura

Depois de tanto tempo, ela olhou seu passado de perdas
percebeu as cicatrizes e descobriu que estas já não doíam mais.

Entendeu que isso também é motivo de alegria: feridas cicatrizadas!
Não há como apagar o passado, esquecer-se dos amores e dos horrores, não, não há!

Mas há de se curar. Curar, não é esquecer, assim como perdoar não é esquecer.
Se dar o direito de curar é mostrar que não precisa cutucar a ferida para lembrar de não fazer novamente, de permitir que alguém lhe fira...

Curar-se é permitir-se amar-se, autorizar-se a viver com autonomia, é saber ser feliz com o que se tem... Sonhar com dias melhores, buscá-los. E enquanto não vem, olhar ao redor e admirar o belo da vida.

Por diversas vezes ela correu muito para chegar e poder estar preparada, mas na verdade, a vida é um contínuo preparar-se e nunca se está pronto realmente. Então, é viver!

Descobriu que as pessoas, inclusive ela, tem a tendência a se magoar - e como sabe disso! -, mas assim que pode, despediu-se disso, pois a atrasa na caminhada. Não é nenhuma sábia, mas faz o possível, hoje, para que seu passado não interfira no presente e sonha sempre com um futuro melhor.

E agora ela bebe Aquarius, pois é zero açúcar, tem gostinho de limão e mata sua sede.

sábado, 21 de abril de 2012

E...
Ela se levantou da mesa
pagou por sua fanta
saiu repentinamente da vida de todos.

Ela saiu...
já não mais tão jovem ou bela
já cansada
já decidida

Saiu...
com olhos cheios de filosofia
com a vida em suas mãos
com a tristeza de desacreditar no ser humano
com os olhos repletos de uma sabedoria dada somente a aqueles que sobrevivem

... e continuou
a ser quem era
de maneira simples
de forma inegavelmente curiosa
inevitavelmente real

então, viu que não havia o que discutir com a vida.
seguiu o caminho dado
parou de rebelar-se
tornou-se mais uma pessoa na multidadão

se transformou em quem sempre quis...

solitariamente comum